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Brasil pode liderar o desenvolvimento de medicamentos efetivos e acessíveis para doenças como a dengue, agravadas pelas mudanças climáticas
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) estimam que doenças agravadas pelas mudanças climáticas provocarão, anualmente, a morte de cerca de 250 mil pessoas ao redor do mundo. Na avaliação da Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi), o Brasil pode ser protagonista do esforço global para encontrar soluções médicas para essas doenças, tanto pelo seu potencial científico de pesquisar e desenvolver medicamentos, quanto pelos impactos que a crise causará na sua própria população.
Luis Pizarro, diretor executivo global da DNDi, que está no Brasil para participar da Cúpula Global de Preparação para Pandemias, ressalta que a dengue é uma das doenças que se agravará com os impactos das mudanças climáticas. O aumento global da temperatura e as alterações nos padrões das chuvas têm criado condições ideais para a proliferação do mosquito Aedes aegypti, resultando no aumento significativo dos casos. Em 2024, a dengue atingiu mais de 6 milhões de pessoas e provocou 5 mil mortes no Brasil. Foi o pior surto da história do País.
Em todo o mundo, áreas que antes não eram tão propícias à reprodução desses mosquitos, agora estão se tornando hospitaleiras, resultando em surtos de dengue em regiões anteriormente não afetadas. Assim como no Brasil, onde houve expansão recente de transmissão para a região Sul, Singapura também registrou seu o pior surto da doença. Já Itália, França e Espanha, que antes não eram atingidas pela doença, começaram a reportar casos recentemente.
Não há tratamento específico para a dengue. Os pacientes contam apenas com medicamentos para aliviar os sintomas, além da hidratação por via oral ou venosa. Os hospitais ficam lotados por pessoas infectadas por uma doença que poderia ser tratada em casa se houvesse medicamento específico, resultando no aumento da mortalidade por dengue e em impactos no tratamento de outras doenças. "Para controlar a dengue, os médicos e as autoridades de saúde precisam de terapias eficazes, além da implementação de programas de controle vetorial e das vacinas existentes", diz Pizarro.
A DNDi, juntamento com parceiros, incluindo a Fiocruz, está trabalhando no desenvolvimento de um tratamento eficaz, acessível, barato e fácil de administrar. As pesquisas estão sendo desenvolvidas no âmbito de uma aliança envolvendo os países mais atingidos pela doença. "Nosso objetivo é desenvolver um tratamento que possa ser usado de forma isolada ou combinada com um antiviral de ação direta para a fase inicial da doença e uma terapia para inibir a resposta inflamatória caracterí stica da dengue grave", diz Pizarro. "Como é difícil saber em que estágio o paciente está quando chega ao hospital, um tratamento combinado para as duas fases da doença tem o potencial de prevenir que a dengue se agrave", explica.
Pizarro chama a atenção para a necessidade do envolvimento de institutos de pesquisa públicos e de organizações da sociedade civil organizada no desenvolvimento de medicamentos para doenças negligenciadas. "O combate ao agravamento das doenças provocadas pelas mudanças climáticas exigirá um esforço conjunto de vários setores da sociedade, instituições públicas de pesquisa, organizações sem fins lucrativos, como a DNDi, e indústria farmacêutica pública e privada", diz.
"Juntamente, com a Fiocruz, usando o modelo de ciência aberta sem fins lucrativos, temos tido sucesso, por exemplo, no desenvolvimento de medicamentos efetivos e acessíveis para outras doenças, como a malária". O medicamento ASMQ, por exemplo, já está sendo manufaturado pela Farmanguinhos e distribuído na região Amazônica.
A capacidade científica e tecnológica do Brasil coloca o país em uma posição privilegiada para liderar a pesquisa e o desenvolvimento de novos medicamentos e soluções para doenças agravadas pelas mudanças climáticas.
Sobre a DNDi Criada pela organização Médicos Sem Fronteiras, em parceria com a OMS e cinco instituições de pesquisa, a DNDi se dedica ao desenvolvimento de novos tratamentos para doenças negligenciadas, desde 2003. A organização mantém parcerias estratégicas com universidades e institutos de pesquisa, como a Fiocruz, para o desenvolvimento de soluções inovadoras que possam ser implementadas tanto no Brasil quanto em outras regiões ao redor do mundo, principalmente na América Latina, África e Ásia.
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