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Diagnósticos estão muito mais precisos
Diagnósticos estão muito mais precisos com a biologia molecular que ainda caminha devagar no Brasil
Guilherme Ambar*
O diagnóstico molecular, área da medicina que utiliza técnicas de biologia molecular para identificar alterações genéticas, moleculares ou bioquímicas associadas a doenças, além de buscar pelos ácidos nucléicos de agentes infecciosos que possam estar presentes, ainda representa apenas 12% dos exames realizados no Brasil. Essa abordagem é especialmente útil para detectar enfermidades de forma mais precisa, rápida e precoce, muitas vezes antes mesmo do surgimento dos sintomas. No entanto, para ampliarmos esse percentual no país, é fundamental investir em infraestrutura, formação de profissionais e políticas públicas que ampliem o acesso, tanto no SUS quanto na saúde suplementar.
Apesar desse cenário, a biologia molecular já vem transformando a prática diagnóstica no Brasil, oferecendo rapidez, precisão e possibilidades de personalização. Com essas técnicas, conseguimos identificar doenças antes mesmo de seus primeiros sinais clínicos o que muda a lógica da assistência em saúde, trazendo ganhos concretos em qualidade de vida e sustentabilidade para o sistema. Deixamos de focar apenas no tratamento para adotar uma abordagem mais precisa e até mesmo preventiva, com a popularização dos testes moleculares.
Essa mudança já é evidente em áreas como a oncologia, genética e infectologia. Um estudo brasileiro demonstrou que o uso de sequenciamento de nova geração (NGS) em DNA tumoral circulante, em pacientes com câncer de pulmão, gerou uma economia de R$ 2 mil por paciente ao ano, com benefícios terapêuticos importantes. No caso do câncer de mama, um teste genômico permitiu evitar a quimioterapia em casos de baixo risco genético, mantendo 95% de sobrevida livre de metástase.
Também há evidências robustas no campo das doenças genéticas. Nos Estados Unidos, o sequenciamento rápido do genoma completo em recém-nascidos criticamente doentes levou ao diagnóstico correto em 43% dos casos, com ajustes terapêuticos em 26%, além da redução de custos hospitalares entre US$ 800 mil e US$ 2 milhões por paciente.
Para as doenças infecciosas, a abordagem sindrômica por PCR em tempo real estratégia diagnóstica que utiliza painéis de testes moleculares para investigar, de forma simultânea, diversos agentes causadores de uma síndrome clínica, com base nos sintomas do paciente permite um diagnóstico mais rápido e preciso. O resultado desses testes tem contribuído para a redução de hospitalizações e do uso indiscriminado de antibióticos e outros medicamentos.
Com base na eficácia da biologia molecular, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (CONITEC) órgão do Ministério da Saúde recomendou, em 2024, a substituição do método tradicional de rastreio de HPV no SUS pela testagem molecular. A decisão foi baseada em evidências científicas que demonstram a maior sensibilidade e eficácia dessa abordagem em comparação com o exame de Papanicolau. O novo método permite a detecção precoce de infecções por HPV de alto risco, possibilitando intervenções mais eficazes e melhoria na qualidade de vida das pacientes.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) também recomenda o uso de testes moleculares como estratégia principal para o rastreamento do câncer do colo do útero, com o objetivo de eliminar a doença como problema de saúde pública até 2030. A utilização dessas técnicas promove, acima de tudo, qualidade de vida aos pacientes.
*Guilherme Ambar é biólogo e CEO da Seegene Brazil
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